quinta-feira, 28 de maio de 2009

Début

"Um dia eu senti um desejo profundo de me aventurar nesse mundo pra ver onde o mundo vai dar", canta Mônica Salmaso em "Nas voltas que a vida dá". Dentre tantos movimentos nos quais me senti imersa, foi me perdendo na imensidão de possibilidades da experiência que, somente depois de muitas curvas - e até alguns 'retões' rumo ao Chuí -, fui tendo algumas pistas para perceber que, de verdade, "quanto mais a gente se solta, mais fica no mesmo lugar". Deleuze que me perdoe: estou enamorada por Benjamin.

Percebendo pela pele (sentindo, vivenciando, ou, num outro grau de intensidade, experenciando) o que os filósofos queriam dizer com a palava movimento, foi no ato de "olhar" para o vento que todas as modificações se despiam para mim em um horizonte de mar que muitos conhecem como "Praia do Cassino". Era a passagem de 2008, e unindo as dispersões que um ano longe de casa e de tudo que se tem como 'casa' (afetos, pessoas, afetos, ruas, afetos, pontos de referência, afetos, deslizes, afetos), eu me sentia inserida nas mudanças do mundo, mudando, por fim, e não tendo o menor receio, apenas um sabor nada amargo - a vertigem que toda aventura nos proporciona.

Em uma das muitas noites que tentei "entender" minha condição, até o momento em que percebi que basicamente eu deveria era me jogar no seu devir, cheguei em terras em que falava até mesmo da experiência antropológica do amor, e um amigo-irmão, que insisto em dizer que é meu duplo, via meu rosto se fragmentar em muitos na luz do dia que chegava sem pedir licença, logo ele que me conhece há várias épocas, e que sabe das muitas que fui, me viu ali, em cada pedaço, numa manhã nascente em que pensávamos que o tempo havia parado (entre confecções de marca-páginas coloridos com sobrinhas sorridentes e torradas sem presunto, mas com batata palha, acreditem!).

Se para assumir os limites da afirmação basta estar vivo e agarrar o bandoneón (já diria o saudoso poeta uruguaio Mário Benedetti), é na experiência que nos leva tanto ao choro inconsolável quanto ao riso desmedido, a toda intensidade, enfim, que um delicioso tango argentino se apresentou pra mim.

E foi n'aquela noite que narrei a necessidade que todos temos de sair da terra-mãe para poder então cantá-la, sem medo, sem pressa, mas com uma urgência tal de materialização; e esta, no meu caso, é a de quem precisa se materializar em palavra ou imagem, ou em palavrimagem, coisa que eu poderia dizer sem nenhum problema, se eu tivesse nascido no Mato Grosso e me chamasse Manoel de Barros.

Narrar a cidade. Dar fluxo às memórias, aos tempos "idos".

Se um dia juntei o que me dava alguma referência em malas e fui acumulando quinquilharias pelo caminho, agora me solto, volto, e com os "meus troços num saco de pano" inicio narrando aquilo que fica no meio: alguns a conhecem como Vila da Quinta, quase uma 'encruzilhada' entre Rio Grande, Pelotas e Santa Vitória do Palmar, Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil.

Do modo como a conheço, não fica exatamente no meio, encontra-se em algum ponto suspenso e intercambiante (segundo o movimento que é feito por aquele que a sente), mas fica sempre à esquerda, num lugar que alguns - ou muitos - poetas chamaram de coração.

4 comentários:

  1. que bom ler isso, bia! eu quero dancar um tango contigo nessa encruzilhada. lots of love e até logo :*

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  2. Betriz
    não é beat
    por um triz!

    Diko

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  3. BEATRIZ
    não é beat
    por um triz!

    hsuahushaushua!

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  4. Que massa Bia...
    essa coisa de sair para poder voltar é algo que me intriga, mas ao mesmo tempo me incita muito...
    mas as vezes penso que nós não voltamos, nós redescobrimos o lugar, ele se torna outra coisa. Mas isso só descobrirei quando quando colocar a mala na garupa!

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